O Festival da Lua Chinês, uma tradição milenar que celebra o outono e a reunião familiar, ganhou as ruas de São Paulo neste final de semana. Pela segunda vez consecutiva, a Rua 25 de Março, considerada o maior centro de comércio popular da América Latina, se transformou em um verdadeiro espetáculo de cores, luzes e sabores orientais, atraindo mais de 100 mil pessoas para celebrar essa data tão simbólica do calendário chinês.
A Escolha da Rua 25 de Março
A escolha da Rua 25 de Março para sediar o evento não foi por acaso. Nos últimos 10 anos, a imigração de comerciantes chineses na região, antes conhecida como "a rua dos árabes", se intensificou, chegando a representar cerca de 70% dos estabelecimentos locais. Essa presença crescente da comunidade chinesa na área reflete a importância da parceria comercial entre Brasil e China, que nos últimos 50 anos evoluiu de apenas 0,2% do comércio exterior brasileiro para impressionantes 27% de tudo o que o país transaciona com o mundo.
"Desde a primeira edição nós mostramos que era possível na 25 de Março criar uma rua diferente, sem os camelôs clandestinos, o comércio ilegal, uma rua mais família, como está hoje, em que as pessoas podem transitar tranquilamente, tem segurança e limpeza. Por isso os lojistas toparam. Vamos mostrar uma 25 diferente", explicou Vitor Zhu, vice-presidente da Associação de Caridade China-Brasil.
Celebrando a Cultura Chinesa
O evento foi muito além de apenas expor os produtos típicos da culinária chinesa. Diversas atividades culturais foram oferecidas, como sessões de medicina tradicional chinesa, oficinas de pintura e apresentações folclóricas. O ponto alto foi a dança do dragão, uma tradição milenar que simboliza segurança e proteção. Com 105,91 metros de extensão, a performance realizada por mais de 100 pessoas de academias de Kung Fu conquistou o recorde brasileiro de maior dança do dragão do país.
"Esse é um trabalho que a comunidade chinesa aproveita para se mostrar. Falamos que a China é conhecida pela potência [econômica], pelas empresas chinesas e como o parceiro comercial do Brasil. Mas a população conhece ainda pouco os chineses, que trabalham tanto, são grandes empresários, empregam bastante, são imigrantes que lutaram e estão tendo sucesso aqui no Brasil", afirmou Roberto Sekiya, um dos organizadores do evento.
Empreendedorismo Chinês no Brasil
A presença da comunidade chinesa na Rua 25 de Março também ficou evidente através de histórias de empreendedorismo e superação. Uma delas é a da empresária Susana Liu, que em apenas três anos ampliou sua confeitaria, a Panda Cake Ateliê, de um pequeno negócio em meio à pandemia para um empreendimento que emprega de 5 a 15 pessoas, dependendo da época.
Nascida no Brasil, Susana voltou ao país em 2015 após passar a infância na China. Impulsionada pelo incentivo de seu orientador de mestrado na FGV, ela se especializou na produção do tradicional Bolo da Lua, um dos principais símbolos do Festival da Lua Chinês. Hoje, seus doces são muito procurados não apenas pela comunidade chinesa, mas também por brasileiros que se encantam com a combinação perfeita entre a tradição oriental e os sabores locais.
"Os chineses escolhem esse produto de docinho lunar como um presente de amizade, de respeito. As grandes empresas corporativas chinesas estão comprando bastante nossos docinhos como o melhor presente que representa a cultura chinesa para os brasileiros. E eu busco fazer um doce lindo que os chineses gostem, mas o brasileiros também. No meio dessa diferença, busquei encontrar uma harmonia e que consigo trazer uma combinação perfeita", afirma Susana.
Fortalecendo os Laços Brasil-China
O Festival da Lua Chinês também celebrou os 50 anos de relações diplomáticas entre Brasil e China, uma parceria que vem se fortalecendo a cada ano. Nesse contexto, a expectativa é de que o recente acordo de Cidades-Irmãs entre São Paulo e a província de Jinhua, no Sudeste chinês, possa trazer ainda mais investimentos e oportunidades para a capital paulista.
Jinhua é conhecida como a "25 de Março do mundo", abrigando o distrito de Yiwu, que exporta para 230 países e regiões do globo, com foco especial nos setores de indústria têxtil e fabricação de hardware. Só no ano passado, 15 bilhões de reais em mercadorias foram exportados dali para o Brasil.
"Com esse festival mostramos mais a nossa cultura para os brasileiros e aproximamos mais as relações. Os brasileiros ficam mais curiosos para tentar nos conhecer. Não vendemos só produtos, temos 5 mil anos de historia por trás", afirmou Daniel Zhu, um jovem chinês que nasceu no Brasil e trabalha com comércio no Brás.
O Festival da Lua Chinês na Rua 25 de Março foi, portanto, muito mais do que uma simples celebração. Foi uma oportunidade de estreitar os laços entre Brasil e China, de valorizar a riqueza cultural chinesa e de destacar o empreendedorismo dessa comunidade que tanto tem contribuído para o desenvolvimento econômico do país. Um verdadeiro encontro de culturas que promete se fortalecer cada vez mais nos próximos anos.
