Em um momento crucial para a cidade de São Paulo, um grupo de jovens paulistanos se uniu para apresentar uma carta com propostas que visam transformar a realidade da juventude, especialmente das jovens negras e periféricas. Essa iniciativa, liderada pelo Projeto Mude com Elas, da associação Ação Educativa, é um importante passo na construção de uma agenda política que atenda às demandas e necessidades dessa parcela da população.
As principais propostas
A carta elaborada pelos jovens parte de duas diretrizes gerais: a melhoria nas condições de trabalho dos jovens paulistanos, com foco nas jovens mulheres negras, e a reivindicação pelo direito à cidade, prevendo a garantia de um ambiente urbano justo, inclusivo, seguro e democrático.
Dentre as propostas específicas, destacam-se:
Acesso ao trabalho decente
- Retomada da "bolsa cursinho" para jovens de baixa renda, ampliando o orçamento do Programa Bolsa-Trabalho.
- Implementação da "economia da cultura", com reajuste do orçamento dos editais do Programa de Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), visando contemplar 30% das propostas inscritas em 2023, com meta de atingir 50% nos anos subsequentes.
- Implementação das "estações juventude regional" nas subprefeituras do município de São Paulo, conforme previsto na Lei 13.735 de 2004.
- Cotas de 20% para jovens negras em programas de trabalho e renda como o Agente SUAS, e de 40% para programas voltados exclusivamente para a juventude, como o Bolsa Trabalho e Jovem SUS.
- Ampliação do número de jovens aprendizes contratados pela prefeitura, com 30% das vagas reservadas para jovens negras.
Habitação e mobilidade
- Reserva de cotas para juventude em programas habitacionais, com foco em jovens mulheres negras, com moradias nas áreas centrais da cidade.
- Tarifa zero no transporte público e combate à discriminação de raça, idade, identidade de gênero e orientação sexual.
O contexto da juventude paulistana
Os dados apresentados pelos proponentes revelam um cenário preocupante para a juventude paulistana. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do terceiro trimestre de 2023, 13,9% dos jovens da cidade estão desempregados, quase o dobro da média geral. Quando se trata das jovens negras, esse índice sobe para 17,1%.
Além disso, a informalidade atinge com maior intensidade essa população, especialmente as mulheres negras, que enfrentam condições de trabalho mais precárias e salários inferiores em relação aos jovens brancos.
Outro dado alarmante é o impacto das adversidades no mercado de trabalho sobre a saúde mental da juventude. Segundo a Agenda Jovem da Fiocruz, publicada em 2023, 58% das pessoas que buscaram tratamento para transtornos mentais associados ao trabalho tinham entre 25 e 29 anos, sendo a maioria (74%) mulheres jovens.
Construindo uma cidade mais justa e inclusiva
As propostas apresentadas pelos jovens paulistanos são fundamentais para que a gestão municipal melhore efetivamente as condições de vida da juventude, com foco na equidade e na justiça social. Ao abordar questões como trabalho, educação, cultura, habitação e mobilidade, eles demonstram uma visão ampla e integrada das políticas públicas necessárias para transformar a realidade da cidade.
Ao entregar essa carta às candidatas a vereadoras, os jovens buscam garantir que suas demandas sejam priorizadas na agenda política da cidade. É um momento crucial para que a voz dessa parcela da população seja ouvida e suas necessidades atendidas, construindo uma São Paulo mais justa e inclusiva para todos.