Peptídeo com 'superpoderes' foi uma das atrações de evento sobre pesquisas no campo do envelhecimento

Peptídeo com 'superpoderes' foi uma das atrações de evento sobre pesquisas no campo do envelhecimento

Dando continuidade à coluna de quinta, sobre a 11ª. Edição do Aging Research Drug Discovery (ARDD 2024), a apresentação de Joshua "Scotch" McClure, CEO e cofundador da Maxwell Biosciences, provocou um frisson na placa ao anunciar que uma droga, criada pela inteligência artificial, pode ser capaz de recuperar o sistema imunológico. Sua tese se baseia num ponto central: nossa saúde depende do microbioma.

Envelhecimento: manipulação da microbiota pode ser um fator que desencadeia a fragilidade

"A visão tradicional aponta o envelhecimento como um processo multifatorial influenciado pela genética e por fatores ambientais que levam ao aumento da vulnerabilidade a patógenos. A visão emergente é de que a manipulação do microbioma, que se dá com o envelhecimento, causa uma inflamação sistêmica. Envelhecimento e microbioma estão intimamente relacionados: os dados mostram que a disbiose pode ser um fator desencadeador e acelerador do envelhecimento", afirmou.

Pausa técnica para explicar: o microbioma intestinal é o conjunto dos genes presentes na microbiota – que, por sua vez, abrange todos os microorganismos que habitam o trato gastrointestinal humano. São bactérias, vírus, fungos e outros organismos microscópicos que desempenham um papel crucial na manutenção da saúde intestinal e do bem-estar geral. Já a disbiose é justamente o desequilíbrio da microbiota.

"Todos os órgãos dependem de uma microbiota saudável. A disbiose acarreta uma série de condições, como agravamento crônico, falhas na comunicação celular, exaustão das células tronco, senescência, disfunção mitocondrial, desregulação celular nutricional, instabilidade genômica, desgaste dos telômeros, alterações epigenéticas, desequilíbrio na instabilidade e disfunção de proteínas", enumerou McClure, com uma relação de links para pesquisas ratificando suas declarações.

E como chegar ao "fim da era doença", como ele próprio define?

Garantindo a integridade da microbiota através de um peptídeo (composto formado pela união de dois ou mais aminoácidos) chamado LL-37. Presente no corpo humano, possui uma série de propriedades para proteger o organismo: é antibacteriano, antifúngico, antiviral, anti-inflamatório e reparador de tecidos, entre outras funções.

"Apesar de termos o LL-37 em nosso organismo, há um problema: ele é instável porque a ligação com o átomo de carbono se degrada facilmente. O que conseguir, através da inteligência da artificial, foi superar essa instabilidade, melhorando o átomo de carbono por um de nitrogênio", explicou.

Esse "passe de mágica" ainda está na fase de testes com cobaias e o objetivo é que o produto final seja um spray nasal, que possa ser absorvido rapidamente e chegar ao intestino. Se o peptídeo não se degradar, como acontece, estaríamos muito mais bem equipados para combater vírus, bactérias e fungos.

Inteligência artificial ajuda a gerar indicadores para a saúde

A apresentação de McClure foi uma das mais aguardadas do evento ARDD 2024, que reuniu pesquisadores, médicos, investidores e empresas do setor de saúde e biotecnologia. Realizado anualmente, o congresso é uma referência mundial no campo da pesquisa sobre o envelhecimento e o desenvolvimento de novos tratamentos.

Segundo os organizadores, a edição deste ano contou com a participação de mais de 2.500 especialistas de 45 países diferentes, que apresentaram os últimos avanços em áreas como genômica, biologia celular, neurociência, medicina regenerativa e inteligência artificial aplicada à saúde.

"Estamos vivendo um momento de grande efervescência no campo da pesquisa sobre o envelhecimento. Os avanços científicos e tecnológicos têm nos permitido compreender melhor os mecanismos biológicos por trás desse processo e desenvolver soluções cada vez mais eficazes para retardar ou até mesmo reverter os efeitos do envelhecimento", afirmou a Dra. Mariana Oliveira, diretora científica do evento.

Entre os destaques do congresso, além da apresentação de McClure, estiveram estudos sobre o papel do sistema imunológico no envelhecimento, o uso de terapias celulares e genéticas para combater doenças relacionadas à idade, e a aplicação de inteligência artificial na geração de biomarcadores e na predição de respostas a tratamentos.

"Estamos cada vez mais perto de uma revolução na área da saúde, com soluções personalizadas e precisas para lidar com os desafios do envelhecimento. Eventos como o ARDD são fundamentais para impulsionar essa transformação, conectando pesquisadores, empresas e investidores em torno de um objetivo comum: melhorar a qualidade de vida das pessoas à medida que envelhecem", concluiu a Dra. Oliveira.

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