Após semanas de batalhas políticas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, apresentou nesta terça-feira, 17 de setembro de 2024, o novo grupo de comissários do bloco, com 40% de mulheres e que visa a competitividade do bloco. Von der Leyen, reeleita para o segundo mandato como presidente do Executivo da União Europeia (UE), apresentou sua lista de comissários, um para cada um dos 27 Estados-membros no Parlamento Europeu em Estrasburgo, leste da França.
A Composição da Nova Comissão
Os comissários propostos pela líder conservadora alemã ainda terão que passar por audiências com os eurodeputados, em uma data que ainda será definida, e por uma votação de aprovação antes de assumirem suas funções. Em alguns casos, o processo será complicado. Um deles é o italiano Raffaele Fitto, ministro para Assuntos Europeus do governo extrema direita de Giorgia Meloni, nome que teve uma recepção ruim no centro e na esquerda do tabuleiro político europeu.
Von der Leyen propôs o italiano como um dos vice-presidentes executivos e titular da pasta da Coesão e Reformas, que tem competência na questão do desenvolvimento das regiões europeias menos favorecidas. O partido de Meloni e Fitto, Irmãos de Itália, foi o mais votado em seu país nas eleições europeias de junho. A primeira-ministra italiana pressionava para que um de seus aliados recebesse um papel relevante nas instituições europeias. A proposta de Von der Leyen reafirma "o papel central" da Itália na União Europeia, disse Meloni.
Entre os outros nomes designados, um dos destaques é a espanhola Teresa Ribera, proposta para comandar uma pasta de Transição Ecológica com amplos poderes e para o cargo de vice-presidente executiva. A socialista Ribera, uma ambientalista com grande experiência em negociações climáticas internacionais, é titular da mesma pasta no governo espanhol e aparece como um dos principais nomes da nova Comissão. "É uma notícia magnífica para a Europa e um orgulho para o nosso país", reagiu o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez. "Com a sua nomeação, a Espanha consegue sua maior cota de influência que já teve em Bruxelas e a UE ganha uma líder excepcional", acrescentou.
Mudanças na Liderança Francesa
O atual ministro das Relações Exteriores da França, Stéphane Séjourné, foi proposto como "vice-presidente executivo para a Prosperidade e a Estratégia Industrial", seguindo o roteiro aguardado desde o pedido de demissão surpresa na segunda-feira de Thierry Breton, que era considerado um nome garantido no cargo, mas que entrou em conflito com Von der Leyen.
Após a demissão de Breton, ex-comissário do Mercado Interno, o presidente francês Emmanuel Macron propôs o nome de Séjourné para este posto essencial, responsável por recuperar a competitividade da indústria europeia.
Novos Desafios e Prioridades
O nome do ex-primeiro-ministro lituano Andrius Kubilius foi proposto como comissário da Defesa e do Espaço, um cargo criado recentemente, no contexto da guerra na Ucrânia. Kubilius vai comandar o reforço da política de defesa do bloco, mas as atribuições exatas do cargo e os recursos para executar suas funções ainda não foram detalhados.
O novo colégio de comissários proposto inclui 16 homens e 11 mulheres, ou seja, 40%, abaixo da paridade desejada por Von der Leyen. Para corrigir a situação, quatro das seis vice-presidências foram atribuídas às mulheres. A presidente da Comissão afirmou que as propostas iniciais dos 27 Estados-membros atribuíam às mulheres apenas 22% dos cargos no Executivo da UE. "Era completamente inaceitável", disse a alemã, antes de destacar que "resta muito trabalho por fazer".
A composição do novo Executivo é um exercício delicado, pois deve refletir o peso de cada Estado-membro e os equilíbrios políticos internos de Bruxelas. A UE vive um momento geopolítico delicado, entre a invasão russa da Ucrânia, a concorrência econômica da China e a incerta campanha presidencial nos Estados Unidos.
Von der Leyen insistiu na necessidade de alcançar uma economia "competitiva, circular e descarbonizada", após a divulgação de um relatório recente de autoria do ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, sobre os desafios econômicos da União. A alemã insistiu em três pilares, voltados para os próximos cinco anos: "prosperidade, segurança e democracia".
Desafios e Críticas
Três meses após as eleições para o Parlamento Europeu, marcadas pelo avanço da extrema direita, a esquerda e várias ONGs temem que a Comissão esteja muito concentrada nas questões econômicas, em detrimento da agenda climática. "Temos que continuar enfrentando o desafio da luta contra o aquecimento climático, mas sempre em um contexto de competitividade", afirmou diplomaticamente Von der Leyen, membro do PPE, o grupo de centro-direita que tem a maior bancada do Parlamento Europeu.
Apesar dos desafios, a nova Comissão Europeia proposta por Ursula Von der Leyen busca equilibrar a necessidade de uma Europa mais competitiva e sustentável, com uma maior representação feminina e um foco renovado em questões como a defesa e a transição ecológica. Resta saber se essa composição conseguirá enfrentar os complexos desafios geopolíticos e econômicos que a União Europeia enfrenta neste momento crucial.