A pandemia de COVID-19 trouxe à tona muitos desafios para o sistema de saúde brasileiro, e um deles é a preocupante escassez de vacinas no país. Dados recentes do Ministério da Saúde e da Confederação Nacional de Municípios (CNM) revelam que a má gestão dos imunizantes pelo governo federal resultou em um desperdício de milhões de doses e deixou 6 em cada 10 cidades brasileiras sem acesso a vacinas básicas.
A Crise das Vacinas
De acordo com os dados obtidos pela Folha de S.Paulo, o governo federal desperdiçou ao menos R$ 260 milhões com a compra de 10 milhões de doses da vacina Coronavac no final de 2023, quando o imunizante já não estava atualizado para as variantes da COVID-19. Dessas doses, apenas 260 mil foram aplicadas, enquanto mais de 8 milhões venceram ou estavam próximas do vencimento.
Além disso, a pesquisa realizada pela CNM entre 2 e 11 de setembro de 2024 revelou que faltam vacinas em 6 de cada 10 municípios brasileiros. A vacina contra a Varicela foi a mais escassa, não chegando a 1.210 cidades. A vacina para proteger as crianças contra a COVID-19 é a segunda mais em falta, com 770 municípios sem o imunizante.
Impacto Regional
Ao analisar os dados por região, a pesquisa da CNM mostra que o Sudeste é a região mais afetada pela falta de vacinas, com 68,5% dos municípios enfrentando essa escassez. O Sul e o Nordeste também apresentam altos índices, com 65,1% de cidades sem acesso aos imunizantes.
Essa realidade é preocupante, pois a região Sudeste é a que mais registra casos e mortes por COVID-19 no país. A falta de vacinas pode levar a um aumento significativo nos números da doença, com consequências devastadoras para a saúde pública.
Outras Vacinas em Falta
Além da vacina contra a COVID-19, a pesquisa da CNM também identificou a falta de outros imunizantes essenciais em diversas cidades brasileiras. A vacina Meningocócica C está em falta em 546 municípios, com uma média de 90 dias de atraso.
Outras vacinas também foram apontadas como escassas, como a Tetraviral, que combate o sarampo, a caxumba, a varicela e a rubéola, em 447 municípios; a Hepatite A, em 307 municípios; e a DTP, que combate a difteria, o tétano e a coqueluche, em 288 municípios.
Essa situação é alarmante, pois a falta de acesso a essas vacinas pode levar ao ressurgimento de doenças graves, como a paralisia infantil, colocando em risco a saúde de crianças e adultos em todo o país.
A Responsabilidade do Governo Federal
De acordo com a CNM, o Ministério da Saúde é o responsável por fazer a aquisição e a distribuição de todas as vacinas do Calendário Nacional de Vacinação para os municípios. No entanto, o que se vê é uma dissonância entre o discurso oficial do governo federal e a realidade enfrentada pelos gestores locais.
O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, destaca que a falta de imunizantes essenciais há mais de 30 dias na maioria das cidades pesquisadas gera frustração e pressão sobre os gestores municipais, que precisam lidar com as expectativas da sociedade e a escassez de vacinas e insumos.
Em resposta, o Ministério da Saúde afirmou que mantém envios regulares de vacinas aos estados, que são responsáveis por abastecer os municípios. No entanto, a pesquisa da CNM aponta uma realidade muito diferente, com 6 em cada 10 cidades enfrentando a falta de imunizantes.
Conclusão
A crise das vacinas no Brasil é um problema grave que precisa ser enfrentado com urgência pelo governo federal. A má gestão dos imunizantes, o desperdício de milhões de doses e a falta de acesso a vacinas básicas em grande parte dos municípios colocam em risco a saúde pública e podem levar ao ressurgimento de doenças graves.
É fundamental que o Ministério da Saúde assuma sua responsabilidade e garanta o abastecimento regular de vacinas em todo o país, evitando que a população fique desprotegida. Além disso, é necessário investir em campanhas de conscientização para incentivar a vacinação e combater a desinformação.
Somente com uma gestão eficiente e transparente dos imunizantes, aliada a uma política de saúde pública robusta, o Brasil poderá superar essa crise e garantir a proteção da população contra doenças preveníveis.