Antes do conflito na Ucrânia, a participação russa nas importações brasileiras de petróleo era insignificante, representando menos de 2%. Nos últimos anos, o Brasil vem se destacando como um grande exportador de petróleo, acumulando recordes históricos consecutivos.
No período de 12 meses até agosto, as exportações brasileiras de petróleo alcançaram impressionantes US$ 61 bilhões, o que reflete um crescimento de aproximadamente 180% nos últimos 10 anos. Contudo, é importante destacar que, além de exportar, o Brasil também realiza importações significativas desse recurso.
O superávit brasileiro na balança comercial de petróleo
O superávit brasileiro na balança comercial de petróleo é notável. Apesar das grandes importações, o saldo foi positivo em US$ 34,62 bilhões no acumulado de 12 meses até agosto. Isso representa uma virada em relação a anos anteriores, quando o país enfrentava déficits consideráveis na conta petróleo. Ainda assim, as importações de petróleo no mesmo período somaram US$ 26,32 bilhões, embora esse valor represente uma queda de 18% em comparação ao ano anterior.
Mesmo com a queda, o volume importado ainda é expressivo. O Brasil necessita adquirir petróleo bruto de determinadas qualidades para atender às demandas de algumas refinarias locais. Além disso, o diesel é o combustível mais utilizado no transporte de cargas no país, o que eleva a necessidade de importações desse derivado.
Importações de petróleo do Brasil
Nos últimos 12 meses, o Brasil importou US$ 9,37 bilhões em diesel, valor que corresponde a 36% do total das importações de petróleo. Além disso, foram adquiridos US$ 8,8 bilhões em petróleo bruto, US$ 2,69 bilhões em nafta e US$ 1,55 bilhão em gasolina, refletindo a diversidade de produtos necessários para o mercado nacional.
Crescimento das importações de petróleo russo
Um fato que chama atenção dos EUA é o crescimento da Rússia como fornecedor de petróleo para o Brasil. Antes do conflito na Ucrânia, a participação russa nas importações brasileiras de petróleo era insignificante, representando menos de 2%. No entanto, após o início da guerra, em abril de 2022, houve uma notável expansão nas vendas de petróleo russo para o Brasil.
Em números concretos, as exportações de petróleo da Rússia para o Brasil, majoritariamente na forma de diesel (85%), dispararam de US$ 780 milhões em 2022 para impressionantes US$ 7,47 bilhões em 2024. Com isso, a participação da Rússia nas importações brasileiras de petróleo saltou de 2,7% em 2022 para notáveis 28% em 2024.
Queda da participação dos EUA
Apesar do crescimento russo, os Estados Unidos continuam sendo um dos principais fornecedores de petróleo ao Brasil. Nos 12 meses até agosto de 2024, o país norte-americano exportou cerca de US$ 6 bilhões em petróleo, representando 22,7% do total das importações brasileiras do produto.
Outro ator relevante nesse cenário é a Arábia Saudita, que, nos últimos 12 meses, foi responsável por 9% das importações de petróleo do Brasil.
Impacto geopolítico
O aumento significativo das importações brasileiras de petróleo russo é um fato que preocupa os Estados Unidos. Essa mudança no padrão de abastecimento de petróleo do Brasil representa uma ameaça à influência americana na região e pode ter implicações geopolíticas mais amplas.
Os EUA temem que o fortalecimento dos laços comerciais entre Brasil e Rússia possa enfraquecer o alinhamento do Brasil com a agenda ocidental, especialmente no que diz respeito às sanções impostas à Rússia após a invasão da Ucrânia.
Além disso, a dependência do Brasil em relação ao petróleo russo pode dar à Rússia uma maior influência política e econômica na América Latina, uma região historicamente dominada pela esfera de influência dos Estados Unidos.
Conclusão
O crescimento das exportações de petróleo da Rússia para o Brasil é um fenômeno que merece atenção e análise cuidadosa. Esse movimento representa uma mudança significativa no cenário geopolítico e energético global, com potenciais implicações para as relações entre Brasil, Rússia e Estados Unidos.
À medida que o Brasil se consolida como um grande exportador de petróleo, sua demanda por importações também se mantém elevada. Nesse contexto, a Rússia emerge como um fornecedor cada vez mais relevante, desafiando a tradicional influência americana na região.
É importante acompanhar de perto os desdobramentos dessa situação, pois ela pode ter impactos significativos não apenas na economia, mas também na política externa e nas relações internacionais do Brasil.