A indústria de alimentos e bebidas no Brasil tem sido palco de uma série de movimentações estratégicas nos últimos meses. A XP Investimentos, uma das principais corretoras do país, acaba de atualizar suas estimativas e recomendações para as ações da Minerva Foods (BEEF3) e Marfrig (MRFG3), incorporando o "deal" (acordo) entre os frigoríficos, à medida que o processo de alienação de 16 plantas e um centro de distribuição se aproxima do fim.
O Acordo entre Marfrig e Minerva
Segundo a XP, a sugestão de aprovação sem restrições pela Superintendência Geral do CADE (órgão antitruste brasileiro) para o acordo entre Marfrig e Minerva foi uma surpresa, embora antecipada por ambas as companhias. Isso se deve a alguns fatores-chave:
- O prazo de um ano desde o anúncio do processo;
- A qualificação de "alta complexidade" pelo CADE;
- A listagem da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) como terceira parte no negócio.
O próximo passo é a aprovação final do CADE pelo tribunal, que provavelmente ocorrerá nas próximas sessões (11 ou 25 de setembro). Embora houvesse a expectativa de que fosse analisado na sessão de 28 de agosto, o acordo não foi listado entre os temas de discussão da reunião.
Impactos para a Marfrig
Para a Marfrig, a venda de ativos proporciona um apoio essencial aos seus esforços de desalavancagem, aumentando o valor do equity. A XP permanece neutra em relação à Marfrig, embora tenha aumentado o preço-alvo para R$ 17,50 (potencial de alta de 19,10%), impulsionado principalmente pelo aumento do Valuation da BRF (BRFS3), mas também devido ao impacto positivo da desalavancagem.
"Nos últimos doze meses, estimamos um desconto de holding de 30%, que esperamos que diminua após a desalavancagem proporcionada pela venda de ativos. Como resultado, estamos incorporando um desconto de holding menor (20%) e nosso valuation baseado em múltiplos", explicam os analistas da XP.
Impactos para a Minerva
Por outro lado, a XP rebaixou a Minerva de compra para neutro com preço-alvo de R$ 8.40/ação, "já que a maior alavancagem pressiona o valor do equity", explicam Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak.
A XP espera que a Minerva comece a operar as novas plantas no início do quarto trimestre e que o atual ciclo de mercado favorável dure mais tempo. No entanto, o aumento da alavancagem após a aquisição dos ativos da Marfrig pressiona o valor do equity da Minerva.
"Nosso Valuation, baseado numa análise de múltiplos, estabelece um preço-alvo de R$ 8,40/ação. Como resultado, qualquer aumento de 5% no Ebitda de 2026 representa um upside de ~19% em nosso preço-alvo", discorrem os analistas.
Preferências da XP no Setor
As preferências da XP dentro do setor de alimentos, bebidas e agro seguem sendo JBS e a BRF, já que um aperto de ciclo (tanto nos EUA quanto no Brasil) e o aumento das taxas de juros podem limitar a geração de caixa e o ritmo de desalavancagem da Marfrig e da Minerva.
Portanto, a XP vê o acordo entre Marfrig e Minerva como positivo para os frigoríficos, mesmo com possíveis riscos, mas acredita que a Marfrig se beneficia mais com a venda de ativos, enquanto a Minerva enfrenta uma pressão maior em seu equity devido ao aumento da alavancagem.