Na madrugada desta quinta-feira, 28 de agosto de 2024, a comunidade indígena Avá Guarani do Tekoha Y'hovy, localizada no município de Guairá, no Paraná, foi alvo de um violento ataque por parte de fazendeiros armados. De acordo com informações do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), quatro indígenas, sendo três mulheres e um homem, foram gravemente feridos durante o confronto.
O ataque começou por volta das 23h da quarta-feira, 27 de agosto, e se estendeu durante toda a madrugada. Segundo relatos, os fazendeiros e seus capangas utilizavam espingardas, cujas munições explosivas causaram ferimentos graves nos corpos dos atingidos.
Durante o ataque, os indígenas transmitiram o confronto ao vivo, permitindo que a população acompanhasse os eventos. Embora não fosse possível visualizar os agressores devido à baixa luminosidade, os vídeos captaram os reflexos das lanternas de veículos e os sons dos disparos distantes e espaçados.
A reivindicação pela demarcação da Terra Indígena
Os Avá Guarani reivindicam a conclusão da demarcação da Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, processo que foi interrompido em 2020 e está atualmente em tramitação na Justiça. A falta de resolução dessa questão fundiária parece ter sido um dos fatores que desencadeou o violento ataque.
Segundo informações do Cimi, a Força Nacional foi acionada para interromper o confronto, mas os policiais demoraram a chegar ao local e os disparos não cessaram mesmo após a presença dos oficiais. Isso levanta questionamentos sobre a atuação das forças de segurança e o atendimento às vítimas.
Quatro indígenas em estado grave
Os quatro indígenas feridos, três mulheres e um homem, foram socorridos apenas pela manhã, com a chegada de um motorista da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Eles foram encaminhados para atendimento médico em estado grave.
A CartaCapital tentou contato com a Secretária de Segurança Pública do Município de Guairá para obter mais informações sobre a atuação policial e a denúncia de demora no atendimento às vítimas, mas não obteve retorno até o momento da publicação desta reportagem.
Um histórico de conflitos e violência
Esse não é o primeiro episódio de violência envolvendo a comunidade indígena Avá Guarani. Ao longo dos anos, eles têm enfrentado diversos conflitos com fazendeiros e grileiros que reivindicam as terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas.
A falta de demarcação e a morosidade dos processos judiciais têm sido fatores que contribuem para o acirramento dos conflitos e a vulnerabilidade das comunidades indígenas. Essa situação reflete um padrão histórico de violações dos direitos dos povos originários no Brasil.
A necessidade de proteção e justiça
Diante desse cenário, é fundamental que as autoridades competentes atuem de forma efetiva para garantir a segurança e a integridade física dos indígenas, bem como para acelerar os processos de demarcação de terras. Além disso, é imprescindível que os responsáveis pelo ataque sejam devidamente identificados e responsabilizados.
A sociedade civil também tem um papel crucial nesse processo, exercendo pressão e acompanhando de perto os desdobramentos desse caso, a fim de garantir que a justiça seja feita e que medidas concretas sejam tomadas para prevenir a recorrência de tais atos de violência.
É inaceitável que, em pleno século XXI, comunidades indígenas ainda tenham que enfrentar ataques tão brutais em suas próprias terras. Urge que o Estado cumpra seu dever de proteger e garantir os direitos desses povos, que são parte fundamental da diversidade cultural e da história do nosso país.