A matriz elétrica brasileira está passando por uma transformação significativa nos próximos anos, impulsionada principalmente pelo crescimento acelerado da energia solar. Segundo o diretor de planejamento do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Alexandre Zucarato, o país precisará realizar contratações anuais de mais potência para o sistema elétrico, através de leilões essenciais para garantir o atendimento aos picos de demanda por energia.
O Avanço da Energia Solar
De acordo com as estimativas do ONS no Plano da Operação Energética (PEN 2024) – Horizonte 2024-2028, a oferta de energia elétrica no Brasil deverá crescer cerca de 30 GW até 2028, chegando a 245 GW de capacidade instalada. Esse crescimento será impulsionado principalmente pelas fontes eólica e solar, além da geração distribuída.
O grande destaque é o avanço da energia solar, tanto em grandes usinas centralizadas quanto na mini e micro geração distribuída. Somadas, essas modalidades de geração fotovoltaica deverão representar cerca de 26% da matriz brasileira ao final de 2028, contra 17,5% registrados em dezembro de 2023.
Desafios da Energia Solar
Apesar dos benefícios da energia solar, sua intermitência representa um desafio para a operação do sistema elétrico. Quando a geração solar deixa de produzir no final da tarde, outras usinas precisam entrar rapidamente em operação para assegurar a estabilidade do fornecimento de energia aos consumidores.
Segundo Zucarato, o ONS identifica um "déficit relevante" de potência para o futuro, sendo necessárias contratações na casa dos 3 gigawatts (GW) por ano para garantir mais conforto e tranquilidade na operação do setor elétrico.
Leilões Essenciais para Garantir o Atendimento
Para lidar com esse desafio, o Ministério de Minas e Energia já indicou a necessidade de um leilão de potência ainda em 2024. Esse leilão será essencial para contratar a potência necessária para atender aos picos de demanda, evitando possíveis cortes de carga de energia.
Zucarato ressalta que, se nada for feito, já a partir de 2025 o país violará critérios ligados ao tema pré-estabelecidos pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e, em casos extremos, poderia haver até corte de carga de energia.
Diversificação da Matriz Elétrica
Além do avanço da energia solar, a matriz elétrica brasileira também passará por outras transformações nos próximos anos. A geração das hidrelétricas, consideradas o pulmão do setor elétrico nacional, deve perder participação, de 47,1% para 40,9% em 2028.
Segundo Zucarato, o Brasil continua sobreofertado de energia, não havendo necessidade de contratar mais energia, mas sim de garantir a potência necessária para atender aos picos de demanda.
Portfólio de Soluções para Potência
Para atender a essa necessidade de potência, o ONS aponta para um "portfólio de soluções", que pode incluir desde usinas hidrelétricas reversíveis, termelétricas e baterias. O importante é ter um recurso que atenda aos picos de demanda, sendo despachável e flexível.
Zucarato destaca que não há uma fonte preferível para o operador do sistema, mas sim a necessidade de diversificar a matriz e garantir a confiabilidade do fornecimento de energia elétrica aos consumidores.
Conclusão
As transformações na matriz elétrica brasileira até 2028 representam tanto desafios quanto oportunidades para o setor. O crescimento acelerado da energia solar, apesar de seus benefícios, exige uma atenção especial para garantir a estabilidade do sistema elétrico.
Os leilões de potência serão essenciais nesse processo, permitindo a contratação da capacidade necessária para atender aos picos de demanda. Além disso, a diversificação da matriz, com a participação de diferentes fontes de geração, será fundamental para assegurar a confiabilidade do fornecimento de energia elétrica no país.
Esse é um momento crucial para o setor elétrico brasileiro, que precisa se adaptar às mudanças e aproveitar as oportunidades para garantir um futuro energético sustentável e seguro para todos os brasileiros.