Mulheres na Liderança do Banco Central do Brasil: Quebrando Barreiras e Liderando a Transformação Digital

Mulheres na Liderança do Banco Central do Brasil: Quebrando Barreiras e Liderando a Transformação Digital

A exemplo do que acontece no mercado de trabalho em geral, também no Banco Central as mulheres ainda estão longe de ocupar espaço para além das cotas na diretoria. Ocupam apenas 11% dos cargos de liderança, aponta estudo publicado no Caderno EBAPE.BR, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). É delas, porém, a linha de frente da estratégia de transformação digital do mercado financeiro, envolvidas diretamente com inciativas como o PIX, a moeda digital DREX e o Open Finance.

O Time Feminino do Banco Central

Foi o que o BC mostrou recentemente na agenda do evento Finance of Tomorrow (FoT). Nas plenárias, que trazem as principais agendas do dia e ocupam o maior espaço, o órgão foi representado pelo diretor de regulação, Otávio Damaso, e pelo diretor de política monetária indicado para a presidência, Gabriel Galípolo. Nos painéis, porém, um time feminino para lá de capacitado puxou a agenda de modernização – e de muita atenção aos riscos e controles – do mercado bancário e financeiro.

Desses nomes, destacam-se Juliana Mozachi Sandri, Chefe do Departamento de Supervisão de Conduta, responsável por supervisionar o sistema financeiro brasileiro em relação à lavagem de dinheiro e combate ao terrorismo e à proteção do consumidor financeiro; Veruska Aragão, chefe-adjunta no Departamento de Tecnologia da Informação do BC e líder do Escritório de Inovação e Segurança Cibernética (ITSeC); Janaina Pimenta Attie, chefe da divisão responsável pela regulação do Open Finance; e Thaís Figueiredo Pinto, Natália Falcão e Janaína Balsanupho Soares, todas atuantes na regulação do Open Finance.

Desafios na Carreira

Perguntada sobre qual o maior desafio que já enfrentou na carreira, Sandri exemplifica bem o que é apontado no estudo publicado no Caderno EBAPE.BR como o maior desafio à ascensão de mulheres na carreira do BC: a dificuldade de conciliar a agenda profissional e de capacitação com a pessoal – família, filhos, pais.

"Optei por fazer o doutorado sem me afastar. Tive o apoio de minha família e do BC, mas não posso dizer que não foi desafiador. Eu tinha aulas à distância, muitas vezes, de noite ou de madrugada, e ainda tinha que gerenciar a casa, filhos adolescentes, e os efeitos da pandemia que todos nós sofremos", conta.

Oportunidades no Open Finance

Para as mulheres líderes no Open Finance, essa iniciativa representa uma boa oportunidade de inclusão. A hiperpersonalização permitirá a criação de soluções específicas para mulheres, como produtos de planejamento familiar e de previdência que considerem a expectativa de vida mais longa do público feminino.

"O projeto Open Finance é desafiador. Envolve uma variedade de assuntos tratados todos os dias, de aspectos muito técnicos até questões estratégicas, ligadas à coordenação de participantes com interesses diversos, por vezes opostos", conta Figueiredo. "Exige um processo de interlocução permanente com o mercado, e uma forte atuação do BC na busca do melhor equilíbrio possível entre os diferentes interesses dos agentes de mercado", confirma Pimenta.

Representatividade Feminina no Banco Central

De fato, não deve ser fácil, principalmente sendo mulher (e, nesse aspecto, a repórter que assina essa reportagem tem lugar de fala, sem necessidade de nenhuma outra fonte). A um mês da sabatina de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central, mesmo com as questões de gênero expostas no governo federal, o mercado financeiro segue especulando sobre a necessidade de indicação de uma – apenas uma – mulher para garantir a diversidade na diretora da instituição. Ruim, dado que a representatividade feminina na instituição é pequena.

Embora a principal forma de ingresso na instituição seja o concurso público, sem uma política afirmativa, do total de 3214 servidores do BC, apenas 23% são mulheres. Entre os cargos, a participação só supera a faixa dos 20% na função procurador. As mulheres ocupam 38% desses cargos. São apenas cinco entre os 39 chefes de departamento.

Sobre esse ponto, Mozachi faz o advocacy da diversidade. "É fundamental que tenhamos mais mulheres em diferentes posições, seja no governo ou nas instituições financeiras. A diversidade (que não se resume a questões de gênero) de quem toma as decisões é fundamental para que as inovações do sistema financeiros beneficie a todos os cidadãos", declara.

As mulheres líderes do Banco Central estão na linha de frente da transformação digital do mercado financeiro, mostrando sua capacidade e expertise em áreas-chave como tecnologia, regulação e supervisão. Porém, ainda enfrentam desafios como a dificuldade de conciliar a vida profissional e pessoal, e a baixa representatividade feminina na instituição. É necessário que o Banco Central e o governo federal adotem políticas afirmativas para aumentar a presença de mulheres em cargos de liderança, garantindo que a modernização do sistema financeiro beneficie verdadeiramente toda a sociedade.

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