Cosan lança IPO da Moove, sua empresa de lubrificantes, nos EUA

Cosan lança IPO da Moove, sua empresa de lubrificantes, nos EUA

Quebrando um jejum de quase três anos sem IPO de empresas brasileiras, a Cosan deu a largada para a listagem da Moove, sua empresa de lubrificantes, nos Estados Unidos. O documento para a oferta foi arquivado ontem à noite na Securities and Exchange Commission (SEC). O prospecto ainda não traz valores nem timing, mas segundo fontes ouvidas pelo INSIGHT, a ideia é fazer a precificação na primeira quinzena de outubro.

Em conversas preliminares com investidores, a empresa sinalizou que busca um valuation de cerca de 10 vezes EBITDA, em linha com as empresas do mesmo setor listadas lá fora, o que lhe daria um valuation de R$ 14 bilhões. Gestores locais e analistas do sell side, contudo, veem espaço para um múltiplo mais próximo de 7 a 8 vezes o EBITDA – ou seja, um valuation na casa dos R$ 10 bilhões a R$ 11 bilhões.

A título de comparação, a Cosan vale hoje R$ 24,5 bilhões na Bolsa – e tem 70% do negócio da Moove, com os outros 30% nas mãos da gestora de private equity CVC Capital Partners, que entrou no capital em 2018, pagando R$ 570 milhões pela fatia.

A oferta como forma de destravar valor

A oferta pode ser uma forma de destravar valor para a holding dos Ometto, um papel que sofre com um desconto crônico em relação à soma das partes.

"É um negócio sobre o qual o mercado conhece pouco e sempre foi muito opaco, com a Cosan abrindo poucas informações sobre o negócio. Agora é uma questão de entender melhor a dinâmica do business", diz um gestor que esteve em conversas recentes com a direção da companhia.

Liderança na América Latina e exclusividade da marca Mobil

A Moove é uma das líderes em fabricação e venda de lubrificantes na América Latina e tem a exclusividade para a marca Mobil do Brasil.

O negócio veio com a compra dos postos Esso em 2008 e desde então veio de diversificando, tanto em produtos quanto em geografias – tanto por crescimento orgânico quanto por aquisições.

No primeiro semestre, 47,3% da receita foi gerada na América do Sul, 29,2% na Europa e 23,5% na América do Norte.

Crescimento deve vir de fora do Brasil

O maior vetor de crescimento deve vir de fora do Brasil. Parte do uso dos recursos com a oferta deve ser usada para essa estratégia – que tem se mostrando bem sucedida.

Em 2022, a companhia comprou a PetroChoice, líder em lubrificantes premium nos Estados Unidos, por US$ 479 milhões e desde então vem conseguindo aumentar a rentabilidade e o tamanho do negócio.

No prospecto, a Moove afirma que se vê como "consolidadora natural" num mercado endereçável "massivo". A PetroChoice, por exemplo, tem apenas 4% do mercado americano, mostrando as oportunidades de consolidação num setor amplamente pulverizado.

Foco na etapa de transformação e comercialização

Sem atuar na indústria de base de químicos e petroquímicos, a Moove atua na etapa da transformação e da comercialização dos lubrificantes, o que a posiciona numa das etapas mais lucrativas da cadeia, segundo a empresa defende no próprio prospecto.

Enquanto o negócio de lubrificantes é secundário em empresas de distribuição de combustíveis mais ampla, a Moove é mais focada e consegue comandar margens mais suculentas pelo seu nível de especialização.

A companhia vem se fortalecendo cada vez mais no segmento de lubrificantes premium e especializados, voltados para a indústria – onde o consumo está diretamente ligado à produtividade – e para setores pesados de transporte, como o aéreo e o marítimo, que tem margens mais elevadas.

"A margem bruta de negócios de lubrificantes como os da Vibra e da Ultra é metade da margem EBITDA que a Moove consegue fazer", diz o gestor.

Pouco intensivo em capex e retorno sobre capital elevado

Dados do balanço mostram que o negócio é pouco intensivo em capex: menos de 2% das receitas foram consumidas em investimentos nos últimos anos, ainda de acordo com dados do prospecto. Isso garante um retorno sobre capital investido expressivo, de 19,2% ao fim de 2023 e de 16,2% em 2022. No primeiro semestre deste ano, o indicador ficou mais baixo, em 10,7%.

A Moove faturou R$ 5 bilhões nos primeiros seis meses deste ano, queda de 1,6% em relação ao mesmo período de 2023 – mas um avanço na rentabilidade. A margem EBITDA passou de 12,4% para 13,7% e a empresa saiu de prejuízo de R$ 58,4 milhões para R$ 237,6 milhões de lucro.

Em 2023, a companhia faturou R$ 10,1 bilhões com lucro de R$ 266 milhões.

A oferta deve dar saída parcial para o CVC Capital Partners e ainda não está claro se a Cosan pode fazer alguma venda – o que deve depender essencialmente do múltiplo pelo qual a empresa vai ser avaliada.

JP Morgan, Bank of America e Citi são os coordenadores globais da operação, seguidos por Itaú BBA, BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) e Santander. O sindicato conta ainda com a Goldman, Jefferies e Morgan Stanley na segunda linha.

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