O Drex, a versão digital do real brasileiro, promete revolucionar não apenas o mercado financeiro, mas também o mercado de bens e serviços no país. Além do seu impacto no mercado de capitais, o Drex deverá reduzir as "fricções" que tornam a compra e venda de carros e imóveis um processo lento, caro e cansativo para a população.
O Impacto do Drex no Mercado de Veículos e Imóveis
João Gianvecchio, gerente de estratégia e inovação do BV, destaca que o mercado de veículos e crédito de veículos é super relevante, estando entre os maiores da economia brasileira. Com o Drex, a expectativa é que o processo de compra e venda de veículos seja simplificado e mais seguro.
"Hoje, o mercado de veículos e crédito de veículos é super relevante, está entre os maiores da economia e supera várias mercados. O BV, enquanto líder no mercado de veículos, já vinha olhando para isso [uso do Drex]. É uma jornada que ainda tem certas fricções, existem alguns dilemas, como quando vende o carro diretamente para a pessoa e aí nunca sabe se transfere o carro primeiro, paga primeiro ou faz tudo junto", explica Gianvecchio.
Com o Drex, a expectativa é que esses processos sejam automatizados e mais seguros, com a transferência da posse do veículo ocorrendo imediatamente após o pagamento. "A operação vai ser contínua, vai poder ter visibilidade de todo o processo e a programabilidade traz um fator de melhoria de ter a liquidação automática e a entrega no momento do pagamento, tudo programado", afirma o executivo.
Além do mercado de veículos, o Drex também deverá impactar o mercado imobiliário, tornando o processo de compra e venda de imóveis mais ágil e transparente.
A Participação do Mercado de Capitais no Piloto do Drex
O BV, juntamente com a B3 e o Santander, teve um dos seus casos de uso propostos aprovados para testes na segunda fase do piloto do Drex. Esse caso de uso terá como foco as transações com automóveis.
Gianvecchio avalia que a fusão dos 42 projetos inicialmente propostos para a segunda fase foi "super pertinente": "O BC pegou projetos com equivalência e relevância com os players para fazer essa junção de consórcios para trabalhar em conjunto. Na prática, como isso vai se dar, ainda não está claro. O cronograma e detalhamento devem sair nos próximos dias".
Ele também elogiou a entrada da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no piloto, supervisionando alguns testes. "Acho que é super pertinente a participação da CVM e isso vai contribuir demais para o amadurecimento e para o crescimento do projeto. O mercado de capitais é um ótimo ponto de partida para testar soluções de tokenização, tendo o Drex como camada de liquidação", avalia.
Desafios e Avanços do Projeto Drex
Apesar dos avanços no piloto, o projeto Drex ficou marcado por alguns adiamentos de prazo. No momento, também não há uma data concreta sobre possível lançamento da versão digital do real. Mesmo assim, Gianvecchio destaca que "as coisas estão no tempo certo".
"Quando fala de criar uma camada nova no sistema financeiro que vai ser usada para fazer liquidação de bens, transacionar dinheiro, precisa ter um fator de segurança muito bem equacionado. O ponto de segurança e privacidade é o grande ponto de discussão ainda, e ele vem criando uma maturidade bastante grande", ressalta.
Para o executivo, "o Drex não está atrasado, está no momento certo. É um projeto sensível, com potencial de impactar a economia como um todo. Não trabalhamos com prazos no momento, o foco está no modelo de negócios e como ele pode trazer a tecnologia para melhorar o produto para o cliente. E, quando o Drex chegar, vai ser uma camada a mais para melhorar experiência dos clientes".
Ele pontua, ainda, que a implementação de diversos casos de uso dependerão de uma evolução dos reguladores sobre o tema. Como o Banco Central, a CVM e a Anbima são os mais avançados nesse sentido, ele acredita que o sistema financeiro deverá ter contato com a iniciativa primeiro.
"As outras autarquias que vão eventualmente usar o Drex como camada de liquidação precisam caminhar para esse nível de maturidade, ou teremos um intermediário criando uma camada entre elas e o Drex. Um link entre o mundo dentro e fora de blockchain. É uma complexidade de como criar uma teia que não vai transacionar dentro do Drex, mas vai ter como câmara de liquidação", afirma.
O futuro da economia digital já está acontecendo. Com o Drex, o mercado financeiro e imobiliário brasileiro poderá se transformar, tornando-se mais ágil, seguro e eficiente para os consumidores. Apesar dos desafios, o projeto segue avançando e promete revolucionar a forma como realizamos transações no país.