Quando a Selic sobe, quais setores da Bolsa sofrem mais?

Quando a Selic sobe, quais setores da Bolsa sofrem mais?

Enquanto o mercado espera o início de um ciclo de aperto monetário nesta quarta-feira (18), os investidores repensam as estratégias para as carteiras de ações. Quando um ciclo de aperto monetário começa, analistas costumam recomendar empresas geradoras de caixa e com pouca sensibilidade aos juros. E isto não acontece à toa, já que as companhias que dependem mais de financiamentos costumam ter desempenho ruim quando a Selic está subindo.

Estudo da XP mostra setores mais afetados

Um estudo da XP mostrou o comportamento dos setores da Bolsa quando o mercado começa a precificar um ciclo de aperto monetário via Swap Pré-DI de 360 dias. Assim, é possível ver como as ações se comportam antes mesmo do aumento da Selic, já que o mercado sempre antecipa esses movimentos. O resultado do levantamento é uma comparação do retorno do setor com o do Ibovespa em um, três e seis meses após a inclinação da curva de juros.

O desempenho considera os ciclos de aperto monetário nos últimos 20 anos e tem três setores como destaques negativos: educação, papel e celulose e construtoras.

Educação

As ações do setor sofrem com a desconfiança do mercado em 2024. As ações da Cogna (COGN3) despencam 55,65% no ano, enquanto as da Yduqs (YDUQ3) caem 48,99%. "São empresas que trabalham com base em financiamentos e têm um nível de endividamento que sofre bastante com a alta de juros", explica Thiago Kurth Guedes, diretor de desenvolvimento de negócios da Bridgewise no Brasil.

Além dos juros altos, a crescente concorrência e a necessidade de investir em tecnologia pressionam as margens das empresas, lembra Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital. Para ele, Ser Educacional (SEER3) e Cogna "vêm demonstrando algumas estratégias proativas, como a recompra de ações e aumento da participação de membros do conselho, o que pode sinalizar confiança na recuperação futura e limitar queda nas ações", mas essas empresas ainda têm dívidas consideradas altas, até para o setor.

Matheus Nascimento, analista da Levante Inside Corp, reconhece que o "segmento todo está pressionado", mas o desemprego menor ajudou a diminuir os níveis de inadimplência e evasão (alunos que abandonam os estudos) e Cruzeiro do Sul e Ânima (ANIM3) "apresentaram alguma melhora nos níveis de alavancagem" e são as mais bem posicionadas no setor em estrutura de capital.

No entanto, ainda que as ações do setor ficaram mais baratas em 2024, "a tendência ainda é de cautela enquanto o cenário monetário se mantiver restritivo", segundo Moura. Já Nascimento, da Levante, conclui dizendo que "o momento para as empresas mais cíclicas andarem talvez ainda não tenha começado".

Papel e celulose

O setor é representado por Suzano (SUZB3), Klabin (KLBN11) e a small cap Irani (RANI3). As gigantes Suzano e Klabin têm queda de 1,2% e alta de 11% em 2024, respectivamente. No primeiro semestre, o preço da celulose subiu e ajudou a sustentar as ações dessas empresas. Bancos avaliam que, mesmo com correção neste segundo semestre, o preço da commodity está em patamar positivo.

Para João Abdouni, analista da Levante, a Suzano é a melhor opção no setor por ter custo de produção menor, mas há boas perspectivas também para a Klabin, apesar do histórico ruim quando a Selic sobe. "Temos recomendação de compra para as duas, Suzano está negociando em um patamar de EV/Ebitda de 5,5 vezes, o que considero atrativo".

Em relatório, o Goldman Sachs afirma que é preciso acompanhar de perto a demanda da China pela celulose, já que o crescimento da economia do país vem preocupando analistas. Uma desaceleração das compras asiáticas pode ter impactos negativos nos papéis do setor por aqui.

Construtoras

Frequentemente citadas entre as empresas para evitar em ciclos de aperto monetário, as construtoras têm seus desafios, mas ainda agradam analistas e entram nas carteiras de recomendações das corretoras.

A avaliação de especialistas é de que o setor vem aprendendo a conviver com juros mais altos, cortando custos para aumentar a margem quando o cenário é desafiador. Um exemplo é o investimento menor em comissões para vender mais: "o movimento de venda tem sido orgânico, o que ajuda as margens", segundo Felipe Mesquita, analista do BB Investimentos.

Ainda assim, a performance ainda não é tão satisfatória. Enrico Cozzolino, sócio e head de análises da Levante, cita balanços alavancados, "falta de vendas" e ciclo de mercado desfavorável para demonstrar as dificuldades das empresas atualmente. Porém, ele acha que vale a pena investir em EzTec (EZTC3), Cyrela (CYRE3) e Direcional (DIRR3) : "temos fatores macroeconômicos favoráveis que podem se materializar e impulsionar a valorização destas empresas no longo prazo", como a melhor no crédito.

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