O Brasil enfrenta um desafio crítico em relação à sua produção de petróleo. De acordo com a diretora de Exploração e Produção (E&P) da Petrobras, Sylvia Anjos, o país pode ter que voltar a importar petróleo dentro de dez anos, caso não haja novas descobertas na chamada "margem equatorial", uma área do litoral norte do país apontada como o novo pré-sal.
A Queda na Produção do Pré-sal
Sylvia Anjos afirmou que, em cinco ou seis anos, haverá uma queda significativa na produção do pré-sal, que atualmente responde por 81% da produção nacional de petróleo. "O tempo está sendo muito crítico, em cinco, seis anos tem uma caída da produção do pré-sal e, com isso, a gente pode voltar a ser importador de petróleo em 2034, 2035, se a gente não tiver descobertas", alertou a diretora, durante uma aula aberta no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A Margem Equatorial: O Novo Pré-sal
A margem equatorial abrange uma área que vai da costa do Rio Grande do Norte ao Amapá e é apontada como a nova fronteira exploratória do país, com grande potencial de encontrar reservatórios de petróleo, assim como ocorreu com o pré-sal. No entanto, a exploração dessa região enfrenta resistência de ambientalistas, preocupados com possíveis danos ambientais.
As Exigências do Ibama
A Petrobras já possui 16 poços na margem equatorial, mas só tem autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para perfurar dois deles, na costa do Rio Grande do Norte. O Ibama negou a licença para outras áreas, como a da Bacia da Foz do Amazonas, alegando preocupações ambientais.
Segundo Sylvia Anjos, a Petrobras já resolveu algumas das exigências do Ibama, como a criação de um centro para acolhimento de animais em caso de derramamento de óleo e a garantia de que não haverá excesso de capacidade no Aeroporto de Oiapoque, no Amapá. A empresa também realizou simulações de exercícios de emergência ambiental.
A Disputa pelos Corais
Um dos pontos de conflito é a informação propagada de que há corais na foz do rio Amazonas. Sylvia Anjos desmentiu essa informação, afirmando que estudos já comprovaram que coral não convive com o mar que não seja absolutamente transparente e sem argila. "Não existe coral na foz do Amazonas, isso não é verdade. Existem rochas semelhantes a corais", esclareceu a diretora.
A Importância do Petróleo
Apesar das preocupações ambientais, Sylvia Anjos argumenta que o petróleo continuará sendo demandado no mundo pelas próximas décadas, tanto como fonte de energia quanto como matéria-prima para a indústria petroquímica. Ela ressalta que a Petrobras utiliza tecnologias que reduzem a emissão de dióxido de carbono (CO₂) na produção de petróleo, chegando a níveis muito abaixo da média mundial.
O Pedido de Reconsideração
A Petrobras solicitou ao Ibama uma reconsideração da negativa de licença para a exploração na Bacia da Foz do Amazonas e aguarda uma resposta. Sylvia Anjos demonstrou expectativa positiva, afirmando que a empresa está "fazendo tudo o que é solicitado para que tenhamos a licença" e está "confiante" de que a autorização será concedida ainda este ano.
No entanto, mesmo que a licença seja obtida, a diretora de E&P da Petrobras não acredita que a perfuração se iniciaria ainda em 2024, devido ao tempo necessário para preparar a operação. Esse atraso representa um prejuízo operacional para a empresa, que arca com os custos de manter equipamentos parados.
O Interesse de Outras Empresas
Sylvia Anjos revelou que algumas grandes petroleiras manifestam interesse em fazer parcerias com a Petrobras, caso sejam encontrados reservatórios de petróleo na margem equatorial. No entanto, ela afirmou que a Petrobras tem conhecimento suficiente para realizar campanhas exploratórias sem a necessidade de parcerias.
O futuro da produção de petróleo no Brasil é um tema de grande importância e preocupação. A Petrobras busca obter as licenças necessárias para explorar a margem equatorial, uma nova fronteira com grande potencial, a fim de evitar que o país volte a depender da importação de petróleo. A transição energética e a preservação ambiental também são desafios que precisam ser equilibrados nesse cenário.