O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou claro nesta terça-feira (27) que pretende usar a Telebras como uma ferramenta estratégica para impulsionar o desenvolvimento da inteligência artificial (IA) no Brasil, sem depender de outras nações que "já estão na frente". Durante uma visita ao Centro de Operações Espaciais Principal (Cope-P) da Telebras, em Brasília, Lula defendeu que a empresa deve ser utilizada na governança de dados e que a estatal tenha estrutura para desenvolver a IA brasileira.
"Eu vim à Telebras porque quero dar um exemplo para o Brasil. A gente vai fazer com que essa empresa seja brasileira, a serviço do brasileiro, a serviço da nossa soberania, a serviço do nosso conhecimento tecnológico, a serviço da nossa inteligência artificial, da concentração do nosso banco de dados, e para prestar serviços ao povo brasileiro, que está precisando de ter o melhor", afirmou o presidente.
Críticas à Privatização e Defesa da Soberania Tecnológica
Lula também aproveitou a ocasião para criticar o modelo de privatização das estatais, chamando-o de "o cúmulo da ignorância". Ele classificou a desestatização como "ignorância levada à sétima potência", argumentando que "um estado que não se respeita, governo que não tem visão de estado, tem coisas que tem ser inexoravelmente do estado".
Para o presidente, o Estado deve pensar no que pode "oferecer para a sociedade", e empresas como a Telebras são um "garante de que a gente pode discutir inteligência artificial sem as outras nações que já estão na frente". Lula ainda destacou que falta "brio" nas autoridades do país e "orgulho de ser brasileiro".
Plano Brasileiro de Inteligência Artificial e Investimentos na Telebras
No final de julho, o governo lançou o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) 2024-2028, que prevê investimento de R$ 23 bilhões em desenvolvimento tecnológico nos próximos quatro anos. Um dos pontos do programa é a instalação de um dos cinco supercomputadores mais potentes do mundo no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), localizado em Petrópolis (RJ), até 2026.
Essa iniciativa vai proporcionar maior conectividade com todos os outros supercomputadores do Brasil e utilização da iniciativa privada, podendo ser conectada à Telebras. Lula acredita que essa infraestrutura tecnológica será fundamental para o desenvolvimento da inteligência artificial brasileira, sem depender de outras nações.
Reestatalização da Telebras e Novos Contratos
Em 1998, o então presidente Fernando Henrique Cardoso privatizou o Sistema Telebras. Desde o começo de sua gestão, Lula passou a reestatizar empresas, e a instituição foi retirada da lista de privatizações em abril de 2023.
Durante a visita ao Cope-P, Telebras e o Ministério do Trabalho e Emprego assinaram um contrato para fornecer serviços de telecomunicações de longa distância. Segundo as informações do Palácio do Planalto, o acordo vai garantir conectividade segura entre as 409 agências do ministério, com monitoramento contínuo contra ataques cibernéticos.
O Centro de Operações Espaciais Principal (Cope-P) da Telebras
O Cope-P opera e monitora o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), que é 100% brasileiro e cobre todo o território nacional. O dispositivo tem capacidade de proporcionar internet banda larga em todo o Brasil por meio de programas de inclusão digital do governo.
O órgão possui um dos datacenters mais seguros do mundo, com certificação TIER IV do Uptime Institute, em Seattle. Essa é a mais alta classificação de disponibilidade e confiabilidade para data centers, conhecida como Fault Tolerant, imune a paralisações de infraestrutura. Essa certificação foi concedida pela primeira vez a uma empresa de telecomunicações no Brasil, sendo o segundo datacenter no país a obter a certificação TIER IV e o primeiro no setor público.
Com esses investimentos e a reestatalização da Telebras, o governo Lula demonstra sua determinação em fortalecer a soberania tecnológica do Brasil, impulsionar o desenvolvimento da inteligência artificial nacional e garantir que os serviços de telecomunicações e dados estratégicos estejam sob o controle do Estado brasileiro.
