O prêmio salarial para doutores, que é a associação da remuneração dos profissionais com a titulação de doutorado, é de apenas 1,1% sobre o salário-hora no setor educacional. O dado faz parte de um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado nesta segunda-feira (26). No caso dos setores não-educacionais, segundo a pesquisa, o prêmio atinge 8,7% do salário-hora.
Além disso, quase metade dos doutores no setor educacional e 84% dos de setores não-educacionais estão empregados com sobre-educação. Ainda nos setores não-educacionais, outro resultado ressalta a subutilização e valorização defasada de doutores no mercado de trabalho: existe uma redução de 6,4% nos rendimentos por hora dessa parcela de profissionais. O percentual corresponde à comparação com os profissionais com ocupações em alinhamento à formação. No caso do setor educacional, não há evidências de penalidade salarial.
O Impacto no Desenvolvimento Tecnológico e Econômico
Os dados levam à conclusão de que o prêmio salarial reduzido da titulação pode diminuir a atratividade dos cursos de doutorado para novos estudantes. A análise é do autor do estudo, Daniel Gama. Ele, que também é especialista em políticas públicas e gestão governamental no Ipea, destaca que os dados evidenciam "a dificuldade de inserção e aproveitamento dos doutores no mercado privado brasileiro, o que pode prejudicar o desenvolvimento tecnológico das firmas e o desempenho econômico".
A Subutilização de Doutores no Mercado de Trabalho
Segundo os dados da pesquisa, quase metade dos doutores no setor educacional e 84% dos de setores não-educacionais estão empregados com sobre-educação. Isso significa que esses profissionais altamente qualificados não estão sendo devidamente aproveitados em suas funções, o que pode representar um desperdício de potencial e conhecimento.
Além disso, nos setores não-educacionais, existe uma redução de 6,4% nos rendimentos por hora dos doutores, em comparação com profissionais com ocupações alinhadas à sua formação. Essa desvalorização salarial pode ser um indicativo de que as empresas não estão reconhecendo e recompensando adequadamente a expertise desses profissionais.
A Necessidade de Políticas Públicas Efetivas
Diante desse cenário, é fundamental que o governo e as instituições de ensino superior implementem políticas públicas efetivas para valorizar e aproveitar melhor a formação dos doutores. Algumas medidas importantes podem incluir:
- Incentivos fiscais e financeiros para empresas que contratarem doutores e os alocarem em funções compatíveis com sua qualificação;
- Programas de fomento à pesquisa e desenvolvimento (P&D) que envolvam a participação de doutores em projetos de inovação;
- Revisão dos currículos dos programas de doutorado, buscando melhor alinhá-los às demandas do mercado de trabalho;
- Campanhas de conscientização sobre a importância dos doutores para o desenvolvimento tecnológico e econômico do país.
Somente com ações coordenadas entre os setores público e privado será possível reverter a tendência de subutilização e desvalorização dos profissionais com titulação de doutorado no Brasil. Essa é uma questão crucial para impulsionar a inovação, a produtividade e o crescimento econômico do país.
Conclusão
Os dados revelados pelo estudo do Ipea são preocupantes e evidenciam a necessidade urgente de se repensar a valorização dos doutores no mercado de trabalho brasileiro. Essa é uma questão que vai muito além da remuneração, pois envolve o aproveitamento efetivo desses profissionais altamente qualificados e seu impacto no desenvolvimento tecnológico e econômico do país.
É fundamental que o governo, as instituições de ensino superior e o setor privado trabalhem em conjunto para criar políticas e programas que valorizem e incentivem a contratação e a alocação adequada dos doutores. Somente assim será possível reverter a tendência de subutilização desses profissionais e aproveitar todo o seu potencial para impulsionar a inovação e o crescimento do Brasil.