O mundo tem acompanhado com entusiasmo o desenvolvimento do hidrogênio verde como uma solução promissora para a transição energética rumo a um futuro mais sustentável. No entanto, a realidade econômica está se impondo, e muitos projetos ambiciosos nesta área estão perdendo força e credibilidade.
Da Austrália aos Estados Unidos, empresas estão pisando no freio dos investimentos em projetos de produção de hidrogênio verde, confrontadas com os custos ainda muito elevados deste combustível limpo. Isso significa que o que se pensava antes, já encontra a realidade dos valores pela frente. E na altura do campeonato, ninguém quer comprometer o caixa, por isso a tendência no mercado mundial. O hidrogênio verde, por enquanto, só está dando certo nas cabeças e nos desejos dos ambientalistas mais radicais.
A adoção desse combustível limpo será muito mais gradual do que se previa. O hidrogênio, visto como uma fonte de energia favorável ao clima, foi um dos ativos mais concorridos e elogiados da chamada energia verde. Mas a realidade de seu alto custo tem cobrado o seu preço. E o empresário pensa muito com o bolso. Por isso, alguns dos maiores desenvolvedores do combustível cancelaram seus projetos, cortaram pedidos e reduziram seus planos de investimento. O combustível de baixo carbono é simplesmente caro demais para estimular a demanda em muitos setores da economia.
O Cancelamento de Projetos
Na semana passada, a empresa australiana Origin, cujo CEO, Frank Calabria, é um entusiasta do clima, cancelou um projeto para produzir o combustível em uma área industrial no leste da Austrália. Ele disse ainda que "A combinação desses fatores significa que não podemos ver um caminho atual para tomar uma decisão final de investimento no projeto."
O hidrogênio verde é produzido com o uso de eletricidade renovável para separar os átomos de hidrogênio e oxigênio da água. O produto resultante pode substituir o hidrogênio derivado de combustível fóssil usado atualmente nos setores de produtos químicos e de refino de petróleo e, potencialmente, para novas aplicações, como armazenamento de energia, produção de aço e combustível para navios.
A Bloomberg revela que a Origin Energy é apenas o exemplo mais recente de uma empresa que está recuando em seus planos. A norueguesa Nel ASA, que fabrica as máquinas que produzem hidrogênio verde, disse que a Hy Stor Energy, com sede no estado do Mississippi, cancelou um pedido de 1 gigawatt de equipamento. Isso teria sido suficiente para construir, de longe, o maior projeto desse tipo nos Estados Unidos.
Outros Projetos Menores Também Sendo Cancelados
Além dos cancelamentos de grandes empresas, companhias menores provavelmente estão fazendo o mesmo com muitos outros projetos, sem que isso se torne conhecido e ganhe visibilidade, de acordo com Michael Liebreich, CEO da Liebreich Associates.
Ainda assim, Liebreich, que é analista e investidor, disse que isso pode ser um reinício positivo para o setor, ao permitir que projetos economicamente robustos sigam em frente. "Muitas pessoas estão simplesmente se afastando e isso é saudável. Quanto mais realismo houver, melhor, porque podemos concentrar tempo, capital e talento em coisas que funcionarão, e não em coisas que não funcionarão."
Perspectivas para o Futuro
Há sinais ainda de que a demanda por hidrogênio crescerá nesta década, mas apenas uma pequena parte dessa demanda está sendo atendida por combustível limpo. A produção de hidrogênio limpo deve aumentar mais de 40% e atingir 1 milhão de toneladas em 2024, embora isso ainda represente apenas cerca de 1% da atual demanda global de hidrogênio, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE).
Portanto, o caminho para a adoção em larga escala do hidrogênio verde ainda é longo e cheio de desafios. A realidade econômica está impondo freios aos planos ambiciosos, forçando as empresas a repensar suas estratégias e a se concentrarem em projetos viáveis. Essa tendência de cautela pode ser um passo necessário para que o setor se desenvolva de maneira sustentável e alcance seu verdadeiro potencial no futuro.