A Petrobras, a maior empresa de petróleo e gás do Brasil, acaba de anunciar uma nova política de preços para o gás natural, com o objetivo de manter sua posição dominante no mercado. Essa segunda mudança na política de preços em 2024 promete baixar marginalmente o preço do gás, mas com efeitos significativos sobre a dinâmica do mercado.
Formadora de Preços
Como agente dominante do mercado, a Petrobras é também a principal formadora de preços. Sua nova estratégia contempla um mix de precificação que varia conforme o volume retirado, com o fator Brent (percentual do preço do petróleo ao qual o gás é indexado) sendo puxado para mais próximo de 11%. Essa redução marginal nos preços pressiona a concorrência a ajustar suas ofertas.
Na primeira janela de abertura do mercado, em 2022, os fornecedores privados entraram com preços abaixo dos praticados pela Petrobras, que chegou a adotar um fator Brent de 16,75% naquele ano. Aos poucos, porém, o mercado foi se reacomodando, com alguns agentes aumentando gradualmente o fator Brent, ao mesmo tempo em que a Petrobras baixava seus preços.
Incentivo à Demanda
Uma das novidades da nova posição comercial da Petrobras é o prêmio de incentivo à demanda. A empresa sinalizou um desconto maior para todo o gás que ultrapassar o limite do take-or-pay (compromissos de retirada mínima), usualmente de 90%. Nesses casos, o fator Brent será da ordem de 10%, e as concessionárias poderão retirar até 15% a mais que a quantidade diária contratada com esse desconto.
Essa abordagem visa estimular o consumo, especialmente em um momento em que a Petrobras amplia a oferta com a entrada em operação da nova UPGN do Complexo Boaventura. O estímulo à demanda, no entanto, é temporário e válido até o fim de 2026, de acordo com a disponibilidade de gás.
Proteção contra Concorrentes
Ao mesmo tempo em que o prêmio de incentivo à demanda estimula o consumo, o mecanismo tende a proteger a Petrobras contra a concorrência. O fator Brent competitivo (10%) para todo o volume que ultrapassa o take-or-pay pressiona a competitividade do gás de oportunidade oferecido pelos concorrentes.
Essa estratégia vem em linha com as declarações recentes da presidente da Petrobras, Magda Chambriard, que afirmou que a empresa não pretende abrir mão de mercado para ninguém, ocupando "o mercado que puder ocupar".
Impactos no Mercado
A nova política de preços da Petrobras deve ter efeitos sobre a dinâmica do mercado de gás natural no Brasil. Além da redução marginal nos preços, a empresa busca proteger sua posição dominante, incentivando o consumo e dificultando a concorrência.
As distribuidoras estaduais ainda aguardam as propostas formais da Petrobras para entender melhor as novas condições e seus reais impactos. No entanto, é possível antever algumas consequências, como a pressão sobre os preços praticados pelos fornecedores privados e a possível reacomodação do mercado.
Esse movimento da Petrobras ocorre em um momento em que outros agentes, como a Bolívia, a Voqen e a Alpek, também se movimentam no mercado de gás, buscando ampliar sua participação. A indústria de gás e petróleo no Brasil segue em constante evolução, com a Petrobras respondendo à concorrência e buscando manter sua posição de liderança.
Considerações Finais
A nova política de preços da Petrobras para o gás natural é mais uma etapa da dinâmica do mercado brasileiro. A empresa busca equilibrar seus interesses comerciais com a necessidade de manter sua posição dominante, em um cenário de crescente concorrência.
As distribuidoras e demais agentes do setor aguardam com atenção os desdobramentos dessa nova estratégia, que promete impactar a precificação e a competitividade do gás natural no país. À medida que o mercado se reestrutura, a Petrobras se posiciona para ocupar o espaço que considera seu, mantendo-se como a principal formadora de preços do setor.